quarta-feira, 29 de julho de 2009

"B. & T. no Centro", na blogosfera

Temos algumas traduções de resenhas de livros relacionados ao estudo bíblico espalhados na blogosfera. Confiram os links:

No blog "Despertai, bereanos": Resenha de "Making Sense of the New Testament"

No blog "Apologia", em "O Testemunho do Discípulo Amado", resenha de 'The Testimony of the Beloved Disciple: Narrative, History, and Theology in the Gospel of John'.

No blog "AD CUMMULUS", em "As mulheres no nascimento do cristianismo", temos a resenha de ‘Gospel Women: Studies of the Named Women in the Gospels’.

No blog "Cristianismo, meramente", em "Deus Crucificado por Nós", a resenha de 'God Crucified: Monotheism and Christology in the New Testament'.

Fizemos uma análise crítica da matéria publicada no portal G1, "Moisés pode não ter existido, sugere pesquisa arqueológica", aqui, sob o título provocativo "Moisés pode ter existido, sugere pesquisa arqueológica" - um exame do sensacionalismo na divulgação de pesquisas sobre temas religiosos

O Antigo Testamento à luz da evidência arqueológica



Resenha de:
Kitchen, Kenneth A. On the Reliability of the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 2003. xxii + 662 pages. Hardback. ISBN 0-8028-4960-1.


O livro de Kitchen oferece ao leitor a mais exaustivamente investigada e abrangente coleção de materiais relevantes do Antigo Oriente Próximo, disponível para o estabelecimento da história do Antigo Testamento dentro do seu original e autêntico mundo. Embora não tenha sido concebida como uma história de Israel no sentido tradicional do termo, serve-se ao leitor uma melhor e mais completa do que qualquer coisa anteriormente disponível. Aqueles que leram o autor de “Antigo Oriente e Antigo Testamento” vão encontrar aqui a mesma discussão detalhada e o denso conjunto de fatos que o volume apresentado anteriormente. Considerando que o referido livro, escrito na década de 1960, cobriu material até o seu tempo, Kitchen passou agora a reunir e argüir as questões das últimas três décadas e meia, tão bem quanto anteriormente. O resultado é uma surpreendente coleção de materiais, voltada principalmente para os textos e secundariamente sobre os artefatos.

Poucos estudiosos de qualquer tendência são tão familiarizados com as fontes primárias como este autor. Poucos leram de forma mais ampla ou fizeram a sua investigação tão intensamente. Aqui está um trabalho que irá pagar as horas investidas em seu estudo com uma fonte equilibrada e baseada em entendimento do mundo por trás do Antigo Testamento e pelo tanto que contribui para um mundo cheio de apreciação da Bíblia e história.

Em seu primeiro capítulo, Kitchen apresenta sua fundamentação para a ordenação dos materiais restantes. Dividindo o Antigo Testamento em sete epopéias históricas, ele escolhe começar com as duas últimas (a Monarquia Dividida, o Exílio e o Regresso) e retrabalhar em capítulos posteriores: Monarquia Unida, Assentamentos em Canaã, estada egípcia e Êxodo, Patriarcas, e Proto-História Primeva. Esta seqüência torna o livro um pouco mais difícil de ler enquanto uma história, no entanto, é conveniente para o método do autor. Ao fazê-lo, Kitchen pode começar a partir do que é melhor conhecido e retrabalhar para os textos bíblicos que estão menos bem atestados ou mais controversos quanto à sua historicidade.

Kitchen examina a Monarquia Dividida primeiramente. Utilizando metodologia apropriada para um historiador, ele começa com as fontes primárias. Cataloga todas as referências aos governantes estrangeiros nos livros de Reis e Crônicas e, em seguida, discute todas as referências aos governantes de Israel e Judá de fora da Bíblia. Quando existe evidência comparativa dos dados provenientes do Egito, Assíria, Babilônia, Aram, Fenícia, e a Bíblia mostra uma consistência nos nomes e seqüências de governantes a que se referem. Isto fornece o essencial com o qual se revê a cronologia das Monarquias Divididas. Usando o sistema de Thiele como um ponto de partida, Kitchen examina as várias questões de múltiplos sistemas de calendários e a questão dos anos de ascensão e descensão nos sistemas de datação. Ele conclui que Thiele explica melhor os dados bíblicos sobre Manassés, e faz alguns poucos ajustes depois (datações de anos de descensão para Jeorão, Acazias II, e Joás), a fim de sincronizar praticamente todas as referências bíblicas em um dos vários gráficos úteis no livro (pp. 30-32).

O autor apresenta uma história da Monarquia Unida, utilizando as fontes disponíveis (pp. 32-45). Tal como no resto do livro, ele demonstra competência, tanto nas fontes primárias como também na discussão acadêmica corrente. Assim, o leitor descobre que as fontes demonstram faraó Shoshenq I (= Sisaque c. 945-924 a.C.) como o único Shoshenq com atividades conhecidas na Palestina. Suas obras inacabadas em comemoração de sua vitória na campanha situada em cerca de 927/6 ou 926/5, idêntico a da invasão do faraó Sisaque mencionado na Bíblia como ocorre no quinto ano de Roboão. Isso seria 926/5. Fornece um dado congruente usando uma série israelita (bíblico) independente do egípcio. Kitchen entende que a Estela de Mesha descreve uma revolta do rei Mesha de Moab contra o rei Jeorão de Israel pouco depois da morte de Acabe (c. 850 a.C.).

Aceitando a mais amplamente seguida reconstrução da Estela de Tel Dan, Kitchen conecta o rei de Israel mencionado aqui com o mesmo rei Jeorão mencionado na Estela de Mesha (embora não por um nome preservado). Este rei de Judá na Estela de Tel Dan é Acazias (II). Os dois reis foram mortos por Jeú, de acordo com 2 Reis 9, mas Hazael de Damasco tem o crédito na Estela. Entretanto, Jeú não aceitou a vassalagem de Hazael mas imediatamente recorreu para o rei assírio Shalmaneser III, presenteando-lhe com um tributo em 841, como exibido no obelisco negro. A vassalagem israelita para a Assíria começa pra valer um século mais tarde, quando Menahem paga mil talentos de prata em 740, a taxa passada para reis em fracas posições em seu país de origem.

O restante da seção discute as intervenções posteriores dos poderes da Assíria e Babilônia. Com base na análise destes registros, o autor conclui (1) que Pekah não foi derrubado por Hoshea mas exilado pelo rei assírio; (2) é improvável que Samaria caira algo diferente de 722 nas mãos de Shalmaneser V; e (3) que Ezequias pagou tributo após Senaquerib e seu exército ter recuado. Este último ponto prende-se com a questão de duas fontes distintas, em 2 Reis, relativa à batalha: uma que é considerada como factual e anterior (18:13-16) e uma que é mais tardia e teológica (18:17 através capítulo 19). No entanto, Kitchen observa que o próprio Senaquerib faz comentários teológicos ("confiando no deus Ashur meu senhor, lutei com eles e derrotei-os") em uma justificativa por escrito dentro de um ano da campanha de 701 (p. 50). Em sua discussão do ataque de Senaquerib em Jerusalém, ele considera 2 Reis 18:15-16 como contendo uma "nota de rodapé" descrevendo como Ezequias recolhera um tributo, apesar de não ter sido pago até depois do recuo de Senacherib (p. 42). Talvez versículos 13-16 podem ser melhor entendidos como um sumário recapitulativo que frequentemente aparece no início de uma narrativa hebraica. O autor analisa todos principais sítios escavados dentro de Israel e correlaciona seus estratos ocupacionais deste tempo (pp. 51-61).

Este valioso e competente inquérito fornece notas sobre possíveis eventos bíblicos e do Antigo Oriente Próximo em relação aos locais. Um resumo das informações do capítulo conclui que os três séculos e meio cobertos pela monarquia dividida podem ser correlacionados com fontes externas escritas e dados arqueológicos para fornecer um confiável relato.

Continuando no período exílico e pós-exilico do Antigo Testamento, Kitchen observa o modo como os escritos bíblicos aqui também correlacionam à linhagem de reis persas com o que é conhecido a partir de
fontes externas. Além disso, Sanballat de Samaria, sucessor de Sanballat II é conhecido do papiro Wadi Daliyeh I, e o bíblico Sanballat é referido no papiro Elefantina de 407 a.C. (p. 74). Inscrições nomeando Geshem e a família de Tobias, todos inimigos de Neemias, também foram encontradas. A fundação e controle de cultos em todo o império persa é atestada a partir de Elefantina, no sudeste egípcio para Lycia e Magnésia na Anatólia. Em Elefantina um representante judeu do imperador foi enviado para garantir a correta observação das festas judaicas, como Esdras fizera em Jerusalém.

Com a evidência para a última parte do abordado pelo Antigo Testamento, Kitchen agora passa a analisar o período anterior. Ele começa com a Monarquia Unida. Primeiro, argumenta que o período de Saul, Davi e Salomão, da décima primeira para a última parte do décimo século, foi um momento de escassez quando tanto o Egito quanto a Mesopotâmia (Babilônia e Assíria) foram ocupados com questões internas e não
deixaram registros de contatos internacionais. Nada dentre as inscrições arameas data deste período precoce. Das remanescentes inscrições fenícias e de Luvian, da Síria e Turquia, elas são quase exclusivamente preocupadas com os seus próprios assuntos. Na Palestina não há praticamente nenhuma inscrição de monumentos a partir deste período, ou mais tarde durante a monarquia. Kitchen menciona apenas um pequeno fragmento de Samaria com uma única palavra, o pronome relativo para "quem" ou "o qual". Caso contrário, ele observa a inscrição de Ekron, a Estela de Mesha, os pequenos textos e fragmentos amonitas, e a Estela de Tel Dan como tudo o que resta de Filistia, Moab, Ammon, e do sul de Aram (sem nada de Edom)1 para os textos dos monumentos históricos da Monarquia inteira (pp. 90-91). Ele está correto em ignorar a inscrição de Jeoás como também muitas questões que permanecem relativas à sua identidade.

Há também agora um fragmento de inscrição de monumento de Jerusalém ("A Fragment of a Monumental Inscription from the City of David," Israel Exploration Journal 51/1 (2001) 44-47), embora a sua parte sobrevivente parece lidar apenas com questões financeiras (tributos do templo?). Kitchen localiza o nome pessoal de Davi nas referências dinásticas a "a casa de Davi", como encontrado nas inscrições do nono século “Tel Dan” e “Mesha”. Ele também considera o nome no local denominado "as alturas de dwt" sobre o itinerário egípcio de Shoshenq I, de 925 a.C. Citando exemplos onde um egípcio "t" transcrevera um semítico "d" em vários nomes próprios, bem como outros asiáticos "Davis" (por exemplo, Twti e TT-w't), juntamente com uma versão etíope do sexto século reproduzindo “Rei David” da mesma maneira (DWT), Kitchen argumenta convincentemente para o nome situado no décimo século do sul judaico, "as alturas de Davi", como a mais precoce referência extrabíblica ao fundador da dinastia de Judá (p. 93).

Tal como muitos outros pormenores, neste volume, o próprio autor tinha publicado anteriormente como um artigo acadêmico ("A Possible Mention of David in the Late Tenth Century BCE, and Deity *Dod as Dead as the Dodo?" Journal for the Study of the Old Testament 76 [1997] 29-44) , mas aqui ele apresenta pela primeira vez como parte de uma discussão integrada
da história de Israel. O mesmo é verdadeiro para o seu modelo de mini-impérios no qual a descrição bíblica do império de Salomão teve realidades geopolíticas comparáveis com contemporâneos mini-impérios rudimentares de Tabal, Carchemish, e Aram-Zobah (pp. 99-104; cf. "The Controlling Role of External Evidence in Assessing the Historical Status of the Israelite Monarchy," pp. 111-130 in V. P. Long, D. W. Baker, and G. J. Wenham eds., Windows into Old Testament History: Evidence, Argument, and the Crisis of "Biblical Israel", Grand Rapids: Eerdmans).

É uma distintiva contribuição do trabalho de Kitchen que muito daquilo que ele escreve em seu estudo histórico representa materiais que ele
mesmo não somente tenha visto em primeira mão, mas frequentemente fora muitas vezes o primeiro a publicar, em termos de seu relacionamento com a história de Israel. Claro, ele também faz uso do trabalho que os outros fizeram. Um exemplo disto são as observações de A. Malamat sobre um texto do assírio Shalmaneser III (oitavo século a.C.), que faz referência ao seu antecessor Assur-Rabi II (1013-972). Durante o seu último reinado, o rei de Arumu capturara duas cidades a leste do Eufrates. Se Arumu é Aram, uma provável possibilidade, então este rei pode ser Hadadezer de Aram-Zobah quem atraira sobre esta área tropas para o seu exército em suas batalhas com David (2 Sam. 10:13-19). Novamente, os paralelos da Idade do Bronze Tardia para o "caminho do rei" (1 Sm. 8:11 e ss.) desafiam a opinião de que esta deve ser uma posterior inserção antimonárquica, utilizando as evidências de Ugarit, Mari, e Alalakh. Para isto especificamente ser possível, acrescenta um paralelo do século XIV ao alistamento real do v. 12 para o trabalho na terra. O texto provém da Palestina, ele mesmo como a carta de Amarna 365, de Biridiya de Megido, que usou sua corvéia para trabalhar a terra para os egípcios na Shunem (Shunama) no Vale de Jezreel.

Kitchen considera uma variedade de temas relacionados com os textos bíblicos que descrevem a Monarquia Unida. De especial interesse são regiões egípcias e adjacentes. Assim, a identidade (Siamun) e finalidade (redução da tributação), do faraó e sua conquista e o presente de Gezer para Salomão são revisados(pp. 107-112). Ao mesmo tempo, ele examina outros domínios das relações internacionais: Hiram e comércio fenício (pp. 112-115), a rainha de Sabá e o comércio de ouro e especiarias da Arábia do Sul e Leste da África (especialmente atrás montanhas do Mar Vermelho, no Sudão, pp. 115-120), e o Templo de Salomão com as suas dimensões de 105 pés por 30 pés e as suas semelhanças (três níveis de armazéns em torno de três lados do edifício, duas colunas de um pórtico, e mais um lugar santo dentro) para com templos hititas e egípcios do segundo milênio a.C., bem como o importante contemporâneo sítio sírio de Ain Dara (pp. 122-127).

Quanto ao templo, os detalhes - como três cursos de pedra seguidos por um de madeira, painéis de madeira nas paredes interiores, folheado a ouro e decoração, e vários utensílios - todos têm paralelos na Idade do Bronze e Ferro. O mesmo acontece com os outros edifícios públicos, a administração, e vários aspectos culturais do reino de Salomão, como registrado nos livros de Reis e Crônicas. Sua discussão do recente debate com relação os dados
tradicionais dos portões salomônicos e fortificações em Hazor, Megido, e Gezer é baseada em uma análise dos estratos em Hazor.

Tal como outros, Kitchen conclui que existem demasiados níveis de ocupação e destruição dentro de um período demasiado curto para a data tardia de Finkelstein e Ussishkin ser aceitável (pp. 140-150). Outro importante debate a partir da Monarquia Unida, que Jerusalém era demasiada pequena e insignificante para ser a capital de um império e que a terra da Palestina no décimo século foi amplamente desabitada, é travado. Kitchen (p. 154) observa que o inquérito do sul de Samaria resulta de quase uma centena de pequenos sítios em que a área é isolada. Ele também
observa estudos separados por Mazar e Dever que lista outros vinte ou trinta sítios em toda a Palestina, neste momento, incluídos centros fortificados. Finalmente, ele compara, nos 16o e 15o séculos, a capital do Egito, Thebes, durante o tempo da criação do seu império do Reino Novo. Foi também uma pequena vila ou cidade.