Devoção a Jesus como divino apareceu mais como uma explosão do que como um desenvolvimento evolutivo.
Professor de Língua, Literatura e Teologia do Novo Testamento
Universidade de Edinburgh (Escócia)
Abril de 2003
Quão cedo os primeiros seguidores de Jesus consideraram-no como divino? Por qual processo histórico esse homem judeu da Galiléia, que foi executado pelo governador romano da Judéia tornou-se reverenciado por seus seguidores como singularmente exaltado à glória celestial? Como procederam aqueles quem primeiro consideraram-no com reverência divina e expressaram sua devoção a ele? Estas perguntas não são novas, mas nas últimas décadas, o que já foi pensado respostas seguras foi desafiado. Nesta nova pesquisa, abordagens mais sofisticadas para as perguntas estão produzindo grandes revisões nas opiniões acadêmicas recebidas.
A abordagem e pontos de vista que foram dominantes foram amplamente desenvolvidas nos anos finais do século XIX e nos primeiros anos do século XX, em um período da pesquisa alemã dominada pela assim-chamada "escola da história das religiões". O estudioso-chave na crença dos primeiros cristãos em Jesus fora Wilhelm Bousset, e em um monumental estudo publicado pela primeira vez em 1913, Kyrios Christos, ele expôs o que se tornou um amplamente ecoado entendimento histórico de questões. Essencialmente, Bousset retratou uma divinização de Jesus que ocorrera como resultado de influências do amplo ambiente religioso romano com seus muitos seus muitos deuses e heróis divinos. Em sua opinião, os primeiros seguidores de Jesus, "a Comunidade Palestina Primitiva”, veneraram-no como Messias e "o Filho do Homem", quem eles esperavam voltar em breve para trazer a salvação escatológica. Bousset acentuadamente distinguira suas crenças sobre Jesus do que veio depois.
Em resumo, Bousset retratou a devoção a Jesus como divino como um processo evolutivo que foi amplamente explicado por "sincréticas" influências do vasto mundo pagão mediado pelo influxo de gentios (não judeus) convertidos às igrejas cristãs, especialmente nos locais de diáspora como Antioquia da Síria. Enquanto que Bousset certamente teve seus críticos e importantes estudiosos (como Oscar Cullmann) oferecendo convincentes visões alternativas de algumas questões pertinentes, a "história" estabelecida no Kyrios Christos gozou extraordinariamente de ampla aceitação nos círculos acadêmicos e, a essência do que foi, portanto, ecoado em muitos relatos populares também.
Mas, em publicações com início já em 1979, eu tenho chamado a atenção para problemas graves na caracterização de Bousset da matéria, citando o trabalho de uma série de outros estudiosos (como Martin Hengel: Son of God: The Origin of Christology and the History of Jewish-Hellenistic Religion, 1976). Então, em um livro de 1988 que gozou de comunicação ampla entre os estudiosos no assunto, One God, One Lord: Early Christian Devotion and Ancient Jewish Monotheism (2 ª edição de 1998, a T & T Clark), estabeleci as bases de uma visão das coisas muito diferente da de Bousset. Eu confirmei o julgamento de alguns outros estudiosos de que a devoção a Jesus como divino, de fato, entrou em irrupção em círculos judaico-cristãos nos anos mais iniciais, muito cedo para se constatar que foi através da influência dos gentios convertidos e amarrado por um processo de desenvolvimento. Então, mostrei que todas as primeiras expressões de crença em / sobre Jesus refletem claramente a influência e os recursos da tradição religiosa judaica, que era a matriz religiosa do cristianismo primitivo. Agora, em um estudo muito maior com um âmbito cronológico que vai do início do movimento cristão até o final do século segundo, eu ofereço uma análise que pretende competir com o estudo clássico de Bousset: Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity (Eerdmans, 2003).
Nessas e em outras publicações da última década e mais, tenho enfatizado que a mais marcante e eloquente indicação do lugar de Jesus exaltado em sua fé como uma constelação de ações devocionais que compunham o que denominei um “binitariano” modelo devocional no qual Jesus foi reverenciado exclusivamente junto com Deus. De faço, nestas ações, que são tomadas como presumidas já em nossos mais antigos textos existentes, foi dada a Jesus o tipo de reverência que foi estava reservada senão somente para Deus em todos os círculos conhecidos dos judeus piedosos do período.


Na tentativa de compreender em termos históricos como tal importante e repentino desenvolvimento poderia ter acontecido, minha pesquisa incluiu extensamente história de fenômenos e desenvolvimentos religiosos (como as origens da comunidade de Qumran, o Islã, os Bahais, mormonismo, e moderno pentecostalismo), e estudos de novos movimentos religiosos em diferentes contextos culturais (tais como estudos de Rodney Stark e de Byron Earhart) e o fenômeno da "inovação" nas culturas. Em One God, One Lord, esbocei uma visão dos fatores principais que levaram e moldaram a grande inovação representada por esta devoção a Jesus, e agora no Lord Jesus Christ, atualizei e aperfeiçoei uma proposta com “as forças e fatores” envolvidos. Embora cada fator teve uma contribuição especial, destaco que é a interação dinâmica de todos os quatro que nos fornece um modelo plausível do processo histórico envolvido no aparecimento súbito da devoção a Jesus como divino.
Primeiro, a ênfase monoteísta da tradição judaica na era romana é absolutamente crucial. Essa ênfase foi mais visivelmente expressa em uma recusa de oferecer adoração a qualquer outra figura senão o Deus de Israel. Ao mesmo tempo, antigos judeus devotos eram muito prontificados a acolher esta ou aquela figura poderosa distinguível de Deus em um papel que pode ser caracterizado como “principal agente” de Deus. Vemos os efeitos da tradição monoteísta judaica na forma consistente que Jesus é identificado e definido com referência a Deus (por exemplo, "Filho / Cordeiro / Imagem de Deus", “exaltado / entronizado por Deus”, “dado um nome / status por Deus”, “glorificado por Deus”, etc.). Em segundo lugar, há o impacto da figura de Jesus. Seja qual for a intenção de Jesus ou a compreensão de si mesmo e suas atividades, os resultados envolveram uma polarização marcante de pontos de vista sobre ele, com alguns sendo seus discípulos e outros prontos para agir contra ele em inimizade mortal. Essa polarização, com o próprio Jesus como a questão, parece remontar à época do ministério de Jesus, e é particularmente evidente em sua crucificação pública.
Mas esses elementos não representam por si só a maneira notável na qual círculos cristãos precoces ofereceram a Jesus exaltado reverências cultuais. Assim, em terceiro lugar, proponho que a poderosa experiência religiosa de "revelação" desempenhou um papel importante. Esta proposta reflete as observações dos estudiosos de que importantes inovações religiosas freqüentemente resultam de tais experiências, embora esta não tenha sido considerada de forma adequada pelos estudiosos das origens cristãs.
Finalmente, é claro, há a influência do ambiente/configuração religiosa da época romana. Deve ser dito, porém, que mais frequentemente do que não, essa influência é exibida nas mais antigas reações cristãs contra as práticas religiosas do seu tempo e nos esforços para distinguir as suas crenças e práticas daquelas que eles consideravam como idólatras.
Finalmente, é claro, há a influência do ambiente/configuração religiosa da época romana. Deve ser dito, porém, que mais frequentemente do que não, essa influência é exibida nas mais antigas reações cristãs contra as práticas religiosas do seu tempo e nos esforços para distinguir as suas crenças e práticas daquelas que eles consideravam como idólatras.
Os trabalhos de uma série de outros acadêmicos do último par de décadas contribuíram com estudos que são similares na sua abordagem e resultados (por exemplo, Richard Bauckham, Loren Stuckenbruck, Carey Newman, David Capes, Alan Segal, Jarl Fossum, April DeConick, Darrell Hannah, Jonathan Knight, Charles Gieschen, Larry Kreitzer, Mehrdad Fatehi, Max Turner). Uns poucos observadores já se referiam a uma “nova escola de história de religiões”! No entanto, isso não é realmente algo do tipo alemão de "escola", ao invés, o que temos é uma série de estudos sobre vários assuntos cognatos por estudiosos que estão chegando a similares e amplamente solidárias (mas não idênticas!) conclusões.
No novo livro que mencionei anteriormente (Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity), reforcei o juízo de que a devoção a Jesus como divino apareceu mais como uma explosão e não como um desenvolvimento evolutivo, tão rapidamente e tão cedo que já na nossas primeiras evidências existentes (epístolas paulinas indiscutíveis) é dado como certo como característica dos círculos cristãos, quer na Judéia ou na diáspora e quer judaico ou gentio. Por exemplo, a referência de Paulo a "todos aqueles que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1:2) sugere que a ação devocional em questão (a "invocar o nome" de Jesus representa uma invocação dele como uma figura divina) foi ubiquamente uma característica da vida religiosa cristã primitiva.
Eu também mostrei que a devoção a Jesus como divino foi exibida com uma intensidade e amplitude totalmente sem paralelos, no cristianismo primitivo dos primeiros dois séculos. Embora houvesse várias divindades e heróis divinos louvados no ambiente religioso romano, estes não são verdadeiros paralelos para a devoção a Jesus, que se tornou tão influente na tradição cristã. Pois uma coisa que é normalmente refletida no cenário religioso da época, é que a devoção a esta ou aquela divindade de forma alguma significava que não se poderia também oferecer culto a qualquer outra ou a todas as outras divindades e figuras divinas da época romana.

No meu próprio trabalho, o foco é sobre as crenças religiosas dos primeiros cristãos e as práticas devocionais que manifestaram as suas convicções religiosas. A maioria dos trabalhos acadêmicos, no entanto, tem-se concentrado no que eu refiro como a "retórica cristológica" do Novo Testamento e outros escritos cristãos primitivos, ou seja, as crenças sobre Jesus e as formas que essas crenças são expressas verbalmente. Estudiosos geralmente se referem a estas crenças como a "cristologia" deste ou daquele texto, autor, círculo, ou período do cristianismo. No tipo de trabalho que tenho realizado e incentivado, porém, há um escopo mais amplo dos fenômenos que compõem o que chamamos de "devoção a Jesus".
Nisto, e na tentativa de abordar o cristianismo primitivo como um desenvolvimento verdadeiramente histórico, o mais recente trabalho afirma as questões da antiga “escola da história das religiões”. Mas, com todo o devido apreço para os impressionantes estudiosos desse período e da influência de seu trabalho posteriormente, os resultados dos mais esforços recentes acadêmicos que estão aqui referidos representam uma grande revisão em nossa compreensão do que a precoce devoção a Jesus foi e como se desenvolveu. A devoção oferecida a Jesus no cristianismo primitivo é notável, mesmo impressionante, e tanto mais quando vista no seu contexto histórico. Graças aos intensos esforços de um número de estudiosos, que agora parecem ter uma compreensão muito mais adequada de como os primeiros cristãos reverenciavam Jesus e como, em termos históricos, esta evolução extremamente influente aconteceu.
Larry W. Hurtado é professor de Língua, Literatura e Teologia do Novo Testamento na Universidade de Edimburgo (Escócia). Suas publicações aqui trazidas ao debate incluem One God, One Lord: Early Christian Devotion and Ancient Jewish Monotheism (Fortress Press, 1988, 2 ª ed T & T Clark, 1998), At the Origins of Christian Worship: The Context and Character of Earliest Christian Devotion (Paternoster, 1999; Eerdmans, 2000), e Lord Jesus Christ: Devotion to Jesus in Earliest Christianity (Eerdmans, 2003).
Excelente postagem!
ResponderExcluirSeu blog é muito útil... abraços!!
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